"Now the Spirit speaketh expressly, that in the latter times some shall depart from the faith, giving heed to seducing spirits, and doctrines of devils; Speaking lies in hypocrisy;having their conscience seared with a hot iron;"1 Timothy 4:1-2

terça-feira, 19 de abril de 2011

O ANTINOMISMO E A IGREJA NA ATUALIDADE




O Antinomismo (gr. Anti=contra; Nomos=lei, literalmente contra a Lei ou contra o sistema da Lei) é uma das heresias mais antigas da História da Igreja. Já aparece no gnosticismo helenizado de Marcião que negava qualquer importância real e espiritual ao Antigo Testamento, e por conseguinte desde a Lei até os profetas, mas especialmente a primeira que era considerada irrelevante e sem mais importância a partir de Cristo, por meio do qual fora estabelecida uma nova relação com os homens. Reapareceria no século XVI quando Lutero, em suas polêmicas com Johannes Agrícola, detectou tendências antinominianas quando este afirmou que o crente, uma vez justificado, jamais perderia a sua salvação. O Antinomismo, portanto, não só rejeita a Lei mas não vê para essa lei qualquer significação nos dias de hoje, seja do ponto de vista da fé ou mesmo da ética. Antinomismo significa contra-o-sistema-da-lei. Ele vê a própria lei de Deus como o inimigo real. (O legalismo é, paradoxalmente, um tipo de antinomismo.) O Antinomismo propõe que pelo fato de o crente ser salvo somente pela graça, ele deve de agora em diante não ter nenhum relacionamento com a lei moral. A era do Espírito, diz-se, substituiu a era da lei. O Antinomismo é a essência da condição humana pecaminosa: Pecado é a transgressão da lei, disse o apóstolo João (1 João 3:4), e Paulo declara: a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser (Romanos 8:7). ( John W. Robbins www.monergismo.com ). O Antinomismo, de uma forma ou outra, é, sem dúvida, um dos principais erros nas igrejas atuais. A obediência consciente à Palavra de Deus objetiva é freqüentemente estigmatizada como legalismo. Como uma torrente inaudita de transgressões da lei, crimes e corrupção moral estão destruindo os fundamentos da sociedade, e a própria igreja se assemelha ao Sansão tosquiado diante dos Filisteus. Como pode a igreja que tem se despedaçado com sentimentos antinomistas ter qualquer palavra real do Senhor para a sociedade pecadora e permissiva? Em vez de lutar com firmeza pelos absolutos morais dos Dez Mandamentos, a igreja professa é encontrada freqüentemente acomodando a lei de Deus às normas sociais atuais. (Pr. Altair Germanohttp://ensinodominical.com.br/2008/07/02/as-doenca-do-nosso-seculo-pr-altair-germano/).Existem formas antinominianas tanto no calvinismo quanto no arminianismo. As formas arminianas em geral enfatizam que do momento em que a Escritura se cumpriu mediante Jesus Cristo, tudo o que está escrito ou predito é fato inconteste bastando apenas o fato de que seu registro se encontra na Bíblia, sendo portanto, artigo de fé no qual se deve crer somente sendo rejeitado por completo o caráter magisterial e moral da Lei. Nesse sentido, o texto bíblico é interpretado de forma quase literal. A Lei se fora e a Graça se impõem, logo, vivemos pela graça e, literalmente, pela fé, sendo quase inteiramente desnecessárias as boas obras que acompanhem o sinal de conversão e pleno arrependimento de vida do justo na direção de Jesus Cristo. Além disso, como a Bíblia representa a revelação literal de Jesus Cristo, seu ensino deve se resumir tão somente à pregação da Palavra, sendo desnecessária, quando não tida por perniciosa, qualquer outra forma de reflexão teológica. Na verdade, num estágio posterior, até mesmo o ensino e a leitura da Palavra se tornam supérfluas. Um caso clássico de antinomismo no meio do movimento metodista foi o de John Bell que em 1763, impressionado com a doutrina paulina da liberdade do pecado passou a afirmar que era infalível, não estava sujeito à tentação e rejeitava toda e qualquer autoridade religiosa. O movimento que ele fundou e que foi ferozmente combatido por Wesley só entrou em declínio depois de ele, que se dizia dotado do dom de operar milagres, ter tentado inutilmente restaurar a visão de um cego e prognosticado o fim do mundo para aquele ano (Lelièvre Mateo. John Wesley, sua vida e sua obra, p.219). Por fim, deixou de ler e estudar até mesmo a própria Bíblia. Comentando sobre isso, Wesley afirmou: Se vocês (o ministério leigo) não precisam de outro livro senão da Bíblia, então já superaram o apóstolo Paulo. Ele necessitava de outras leituras. E recomendava explicitamente aos seus pregadores que lessem outros livros além da Bíblia a fim de complementarem a sua formação para o pastorado e o evangelismo (ídem, p.241). No século XX o antinomismo de vertente arminiana reaparecerá no assembleianismo nascente, na firme resistência de pastores e missionários (sobretudo aos da Missão Sueca) contra toda e qualquer forma de educação teológica que, no entender deles, desvirtuaria por completo o avivamento da Igreja. Só quando se verificou que o antinomismo militante dentro da Igreja estava desfigurando até mesmo doutrinas bíblicas como a Trindade, é que se passou efetivamente a haver uma preocupação consistente com a educação teológica dos ministros (cf. nosso artigo A Questão da Formação Ministerial no Âmbito Pentecostal, um estudo de caso das Assembléias de Deus, 02/11/08).No Antinomismo calvinista, representado principalmente pelo conde alemão Nicolaus von Zinzendorf, a salvação por Cristo é testemunho em si (na verdade o único) da salvação do crente sendo os demais elementos como a Graça e a Santificação tão somente meios aderentes que testificam a salvação e que até corroboram com essa mesma salvação, embora não exerçam influência determinante na concretização da salvação em si, além do que, nem poderiam fazê-lo. Cristo é o princípio de todas as coisas, logo tudo, especialmente a salvação, está condicionado Nele. Todas as doutrinas são apenas decorrências do seu magistério, mas o principal da questão é que a santificação já está no crente no momento em que ele confessa Cristo como salvador e a santificação lhe é imediatamente imputada e não decorrente de um processo de contínuo de crescimento espiritual e amadurecimento mediante o conhecimento da Palavra e da fé. Como disse Zinzendorf em seu colóquio com Wesley: toda perfeição cristã consiste em confiar no sangue de Cristo. Toda perfeição cristã é imputada, não inerente. Somos perfeitos em Cristo, nunca em nós mesmos. Ou seja, Zinzendorf imputava a Cristo a total perfeição que aos homens seria legada como herança pela nossa salvação, esquecendo, naturalmente, o testemunho paulino de I Co 11.1 onde fica evidenciado o caráter progressivo e não imputado da santificação. Curiosamente, no que diz respeito à santificação, a Confissão calvinista de Westminster não corrobora essa tese: Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda persistem em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma guerra contínua e irreconciliável - a carne, lutando contra o espírito e o espírito contra a carne. (XII,2). Tanto Rtischl em sua história do pietismo como Max Weber são unânimes em salientar que o tema da aristocracia dos eleitos, presente no puritanismo inglês da Confissão de Westmister, também se apresenta no pensamento de Zinzendorf. (WEBER Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 103). De fato, o pensamento de Zinzedorf no que diz respeito à perfeição imputada aos homens por meio do reconhecimento de Cristo como Senhor, Salvador e Justificador, tem pontos de aproximação com a teologia de Westminster: Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa. (III.5). Desse modo, mesmo alegadamente mantendo a herança teológica luterana, o pensamento de Zinzendorf, e durante sua vida, o da própria comunidade de Herrnhut, involuiu para um tipo de antinomismo cuja inspiração vinha sem dúvida do puritanismo inglês.

Edson Douglas de Oliveira