"Now the Spirit speaketh expressly, that in the latter times some shall depart from the faith, giving heed to seducing spirits, and doctrines of devils; Speaking lies in hypocrisy;having their conscience seared with a hot iron;"1 Timothy 4:1-2

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Supremo reconhece união homoafetiva


Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem as Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. As ações foram ajuizadas na Corte, respectivamente, pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator das ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do Código Civil, que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF. 
Os ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso, bem como as ministras Cármen Lúcia Antunes Rocha e Ellen Gracie acompanharam o entendimento do ministro Ayres Britto, pela procedência das ações e com efeito vinculante, no sentido de dar interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do Código Civil, que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
Na sessão de quarta-feira, antes do relator, falaram os autores das duas ações – o procurador-geral da República e o governador do Estado do Rio de Janeiro, por meio de seu representante –, o advogado-geral da União e advogados de diversas entidades, admitidas como amici curiae (amigos da Corte).
Ações
A ADI 4277 foi protocolada na Corte inicialmente como ADPF 178. A ação buscou a declaração de reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Pediu, também, que os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis fossem estendidos aos companheiros nas uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Já na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, o governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) alegou que o não reconhecimento da união homoafetiva contraria preceitos fundamentais como igualdade, liberdade (da qual decorre a autonomia da vontade) e o princípio da dignidade da pessoa humana, todos da Constituição Federal. Com esse argumento, pediu que o STF aplicasse o regime jurídico das uniões estáveis, previsto no artigo 1.723 do Código Civil, às uniões homoafetivas de funcionários públicos civis do Rio de Janeiro.

MISSÕES URBANAS VIDA PARA MILHÕES MISSÕES MAIS MISSÕES




Elementos para uma missão urbana

E-mailImprimirPDF
Esse artigo é de autoria de Luis André Bruneto Oliveira. Você tem permissão para usar, desde que citada a fonte.
Monografia apresentada em cumprimento às exigências da disciplina Pastoral Urbana no Brasil do Curso de Pós-Graduação da Faculdade Teológica Sul Americana, ministrada pelo Rev. Dr. Jorge Henrique Barro, Londrina, 2003


INTRODUÇÃO

A igreja se relaciona direta e diariamente com a vida na cidade. Ela vive junto, ora e atua em comum, onde cada um coopera para o bem de todos e através da construção de uma sociedade cristã e justa se deduz qual é o sentido de ser igreja. A missiologia está sempre presente, levando a comunidade eclesial a atuar de modo a obedecer a ordem de seu Senhor, apontando o sentido de sua existência. A força atual da igreja só será medida quando se puser em prática a missiologia urbana, com todos os elementos que ela supõe.

Deus decidiu precisar de homens e mulheres para realizar isso de proclamar seu Filho. Por isso, os resgata, os chama, os vocaciona, os capacita e os respalda para essa obra. Esse é o papel da igreja: através da ação polarizadora do Espírito Santo levar as boas novas aos que ainda não ouviram. Ou seja, precisamos conhecer a Deus e torná-lo conhecido.
Devemos para isso não medir esforços em aprender como analisar a cidade em todos os seus aspectos, para que a ação seja, de fato, relevante.

Para isso, existe uma hermenêutica da cidade. João Batista Libânio[1] mostra que essa reflexão sobre a cidade tem três momentos: no primeiro, elabora-se uma fenomenologia da cidade, e nos dois momentos seguintes, estabelece-se um círculo hermenêutico completo entre fé e cidade.

Portanto antes de tudo, precisamos nos debruçar em elaborar uma fenomenologia da cidade. Creio que para compreender a cidade é necessário olharmos para o passado: estudar o comportamento, os valores, as crenças para que tenhamos uma real cosmovisão da cidade. Quando entramos em contato com o passado da cidade, abrimos a porta para entendermos o presente, e planejarmos o futuro.

Este trabalho visa apresentar o contexto da missão urbana, onde ela se realiza. Depois, apresenta as bases bíblicas para que realizemos isso. Num terceiro momento, vemos que o agente para a transformação da cidade é a igreja de Jesus Cristo, vocacionada para esse serviço. E por último, apresentamos estratégias para realizar essa obra.

Creio que esses passos podem auxiliar a compreender melhor o lugar onde vivemos e elaborar um plano eclesial prático e funcional que alcance as pessoas da cidade, para a glória de Deus.


CAPÍTULO 1
O CONTEXTO DA MISSÃO URBANA – ONDE?

“As cidades são o principal campo missionário do século XXI”. Com essa frase o Dr. Charles Van Engen[2], iniciou sua série de preleções sobre missão urbana[3], em março de 2002, na cidade de Londrina (PR). Sua afirmação é uma verdade latente e preocupante por parte dos missiólogos espalhados pelo mundo inteiro.

A preocupação dos acadêmicos é proporcional ao crescimento dos centros urbanos. O grande desafio hoje é levantar os olhos e ver a cidade como um grande campo branco pronto para a ceifa (Jo 4:35).
1.1. A Urbanização no Brasil e no mundo

A urbanização é um fenômeno mundial. Cerca de metade da população mundial, que já atingiu a cifra de seis bilhões e meio de pessoas, mora em cidades.

Na década de 60, a população urbana representava 34% da população do planeta. Esse número saltou para 44% em 1992, e existe uma estimativa de que 61,01 % da população mundial esteja vivendo em cidades até 2025.

No Brasil, o assunto não é diferente, muito embora, o crescimento aqui foi mais acelerado que outros países. O Brasil deixou de ser um país essencialmente rural no fim da década de 60, quando a população urbana chegou a 55,92%. A mecanização das atividades rurais e a atração exercida pelas cidades como lugares que oferecem melhores condições de vida são dois dos principais fatores do êxodo rural.

Atualmente, o país conta com 81,23% de seus habitantes morando em áreas urbanas (IBGE - censo 2000). Houve um acréscimo de 26,8 milhões de habitantes urbanos desde o último censo de 1991, devido ao crescimento vegetativo nas áreas urbanas, à migração com destina às cidades e à incorporação pelo IGBE de áreas, que em censos anteriores, eram consideradas rurais.

Esse fenômeno de “abandono” do campo e de migração para centros urbanos, não é um fato isolado do contexto brasileiro, mas de toda América Latina e parte mais oriental da Ásia. Já a África e Ásia (mais ocidental) apresentam um crescimento urbano acelerado, mas proporcionalmente diferente da América Latina, porque sua fase de industrialização cresceu principalmente nas últimas 3 décadas, e o deslocamento da população rural para esses pólos, deu-se principalmente nos últimos 20 anos. Hoje a população urbana do continente africano é de 37, 5% da população total, mas em crescente expansão.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), até 2015 4 bilhões de pessoas viverão em cidade. O número de cidades com mais de 10 milhões de habitantes (mega-cidades) será de 26 até o ano supracitado. Para comparar, em 1950, existia apenas uma cidade com esse número de habitantes em todo planeta, Nova York.

As cidades, principalmente nesses “dois terços” do mundo, não crescem apenas em população, mas também em problemas sociais, econômicos e políticos. Pobreza, violência, fome, doenças, favelas,..., os problemas são imensos. Segundo Viv Grigg [4], parte considerável da população das maiores cidades dos “dois terços” vivem em favelas. É notório que a má distribuição de renda,
“expulsa a população rural, que migra para as cidades. Também contribuem para esse deslocamento os baixos investimentos dos governos na agricultura e a ausência de políticas agrárias. O crescimento natural da população responde por 60% do incremento urbano. O acelerado aumento da população urbana deixa as cidades mais suscetíveis a crises periódicas ou permanentes, em razão da pobreza, da degradação ambiental, da qualidade dos serviços urbanos e das precárias condições de infra-estrutura. De acordo com a ONU, 250 milhões de pessoas não recebem água tratada, 400 milhões não contam com esgoto e 500 milhões estão sem moradia.” [5]
Da população mundial atual, 47 % vivem em cidades. Em 2006, serão 50%, e 24 anos depois, em 2030, serão 60% da população (4,9 bilhões de pessoas).

Outro grande problema é a formação de megacidades. Essas são áreas com uma população igual ou superior a dez milhões de habitantes. De acordo com a ONU, estima-se que no ano 2015 haverá, ao redor do globo, 28 cidades com mais de 10 milhões de habitantes[6], e Tóquio, Mumbai, Jacarta, Karachi, Lagos e São Paulo terão mais de 20 milhões de habitantes. Outro fator que devemos notar é que 14 das 21 maiores metrópoles do mundo se localizam em países subdesenvolvidos[7].

Num relatório do BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento - Banco Mundial) divulgado em 15 de setembro de 1999, para absorver os 2,4 bilhões de novos residentes urbanos, nos próximos 30 anos, as cidades terão que fazer maiores investimentos em moradia, água, saneamento, transporte, energia e telecomunicações. [8]

Portanto, além de acumular pessoas, as cidades acumulam problemas. Os problemas são diversos: estruturais, econômicos, sociais, políticos. Para muitos, vida urbana passou a ser sinônimo de desemprego, pobreza, favelas, congestionamento, poluição.

Outra categoria nos estudos urbanos é o da cidade global. Estudos feitos recentemente mostram que hoje existem no mundo cinqüenta e cinco cidades-globais. Para sabermos se uma cidade é global, leva-se em conta

o número de escritórios das principais empresas (em contabilidade, consultoria, publicidade e banco e consultorias) a sua rede financeira/bancária, de telecomunicações etc. As cidades globais são vetores importantes da globalização. Elas são sede de poder e por meio delas que a economia global é administrada, coordenada e planejada. Elas formam uma rede onde transitam os trilhões que alimentam os mercados financeiros internacionais. Elas formam também uma teia que dissemina serviços especializados para a indústria e para o comércio, concentram as estruturas de comando das 37 mil empresas transnacionais atualmente existentes[9].
Algumas cidades são, simultaneamente, cidades-globais (concentram poder) e megacidades (população superior a 10 milhões de pessoas). Nova York e São Paulo estão nessa categoria.

Concluindo, a urbanização, portanto é um fenômeno que acontece nos quatro cantos do globo, com mais intensidade nos países dos Dois-Terços do mundo.

1.2. A Cidade e a Cultura

Contudo, a cidade não é apenas população e problemas sociais, mas uma concentração cultural. Olhando para isso, é possível entender que a cidade deixou de ser um conceito geográfico e passou a ser um conceito sociológico.

Por um lado, as pessoas que migram de diferentes regiões procuram se concentrar, formando “guetos culturais”. São formados grupos que tentam manter vivas as tradições da terra natal, como os Centros de Tradição Gaúcha, espalhados por todo país. Isso é uma maneira de fortalecer os laços culturais.

Contudo, as influências externas tendem a transformar a cultura natal em algo mesclado com outras culturas. Em muitos momentos, a cultura da terra natal não representa tanto e os principais valores culturais aprendidos são misturados com outros em diversas situações. Acontece uma fusão de elementos culturais diferentes, ou até mesmo antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns sinais originários. Diante disso são formados grupos que compartilham de interesses e gostos análogos.

Por outro lado, existe uma cultura que é própria da urbanização, levando os habitantes da cidade, tanto os de classe média alta como os de classe baixa, a pensarem de modo individualista. De acordo com texto organizado por Carlos Fortuna encontramos que são quatro os traços principais que levam à consumação desse pensamento individualista:

1) o intelectualismo, pelo qual, e aos contrário do que acontece em pequenas localidade, o sujeito se vê forçado a conter as suas emoções e a agir de modo racional; 2) a reserva mental, ou a criação de distâncias nos contatos quotidianos, como mecanismo de auto-proteção da individualidade; 3) o espírito calculista e pragmático como garantia de sobrevivência numa cultura quantitativista e 4) a atitude blasé, um traço psíquico que remete para a banalização das diferenças e a (auto) desvalorização pessoal [10] (grifo do autor)

Concluindo, a cidade é um amontoado de culturas diversas misturadas com culturas locais, preservando valores originários. É também um lugar onde impera o individualismo, onde as pessoas tendem a competir para conquistar um melhor lugar dentro da sociedade vigente.

1.3. A Cidade e a igreja

E a igreja, onde fica na cidade? Para entender como a igreja se relaciona com a cidade precisamos recorrer à história.

A igreja cristã teve um papel fundamental no curso da história humana. Quando Jesus e seus seguidores fundaram a igreja, ela expandiu-se nas cidades, nos vilarejos e nas áreas rurais de todo o mundo, principalmente no Oriente próximo e Ocidente. No Período Apostólico (séc. I, II, e III), a igreja tinha uma relação de misericórdia para com a cidade e seus habitantes. Era um período da igreja escondida. Era clandestina, vivendo em catacumbas e reunindo-se nas casas dos irmãos. Depois, no Período Imperial (séc IV ao XVI), a igreja sai da clandestinidade para o reconhecimento. Sai da obscuridade e aparece no palco do mundo. O grande iniciador de tudo isso foi o imperador Constantino, o “grande”, que se “converteu” ao Cristianismo e tornou-a religião oficial de todo império romano. Solidifica-se nas cidades, construindo, principalmente na Europa, com grandes catedrais e universidades. Tudo agora dependia da igreja, e óbvio de seus líderes. Reis e rainhas eram coroados pelo Papa, sujeitando, de certa forma, todo o poder do estado à Roma. Neste período o mundo viveu a “era das trevas”.

Com a Reforma, a igreja passou a olhar mais para os moradores da cidade. Uma das primeiras atitudes dos reformadores foi de traduzir a Bíblia na linguagem do povo. Neste período ainda a igreja ditava as regras, fosse católica ou protestante. Com as duas grandes revoluções da história, a Francesa e a industrial, a igreja começou a perder seu poder. Até este período, a igreja se encontrava sempre na vanguarda da história, e agora passa à retaguarda. Isso é de suma importância para entendermos o papel da igreja nas cidades hoje.

Nesta última fase, desde a Revolução Industrial até hoje, a igreja passa a ter uma atitude reacionária com a cidade. Antes, acostumada a estar na frente de decisões políticas, econômicas e sociais, se vê agora sem rumo e precisa redefinir seu papel. A partir disso então, a igreja passa a viver sempre na retaguarda das cidades, sempre reagindo às necessidades da população.

CAPÍTULO 2
A TEOLOGIA DA MISSÃO URBANA – POR QUE?

Precisamos pensar na cidade antes de realizarmos um ministério efetivo nela. Conhecer a cidade e suas culturas, suas faces, as pessoas. Enfim ser um explorador da cidade. Porque? Porque só conhecendo a cidade e seus habitantes podemos ser efetivo na transmissão do amor e da justiça de Deus.

Porque realizar a missão na cidade? Quero destacar algumas motivações.

2.1. Para que o nome do Senhor seja glorificado

No Antigo Testamento encontramos várias referências ao mandato de Deus para que outros povos cheguem ao Seu conhecimento. Em 1 Crônicas 16:23-24, existe uma exortação para cantar ao Senhor em toda a terra e contar entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas maravilhas. Em 2 Crônicas 6, na oração que Salomão faz na dedicação do templo há um verso especial:

Então, ouve tu desde os céus, do assento da tua habitação, e faze conforme a tudo o que o estrangeiro te suplicar; a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, e te temam, como o teu povo Israel; e a fim de saberem que pelo teu nome é chamada esta casa que edifiquei (33).

O instrumento para a realização desse serviço missionário era o povo de Israel, distinto por suas leis e por sua bênção. Eles é que deveriam levar a todos os povos da terra a bênção que Deus concedera a Abraão (Em ti serão benditas todas as famílias da terra – Gn 12:3)

No Novo Testamento, encontramos os mandatos missionários de Jesus em Mateus 28:19, que aponta para fazer discípulos de todas as nações; e em Marcos 16:15, que é para ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura. Em Lucas 24:47, existe uma marca distintiva da grande comissão de Jesus: em Seu nome deveria ser pregado o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, mas deveria se começar por uma cidade: Jerusalém.

O que significa isso? Para que Deus seja glorificado é necessário que se pregue o evangelho em todas as cidades, levando a todos os povos o amor, a justiça e a misericórdia de Deus, acrescentando pessoas à igreja de Cristo espalhada pela terra.

2.2. Obediência ao mandato de Cristo

Os textos neo-testamentários do tópico acima e mais Mateus 22:2-14 (Parábola das Bodas), nos ordena que devemos pregar o evangelho. Portanto, levar Cristo a todas as pessoas da cidade, ou seja, fazer missão urbana, é uma ordem direta Dele a todos os seus discípulos. A igreja deve estar pronta a obedecer as ordens de Jesus.

2.3. Paixão por Cristo

Paixão! Um sentimento levado a um alto grau de intensidade, um amor ardente, uma inclinação afetiva, um afeto dominador, um entusiasmo muito vivo por Cristo e sua obra. Este sentimento norteava o ministério do apóstolo Paulo e o impelia para que levasse adiante as Boas Novas.

Para Paulo, não existia nada no céu ou na terra que nos podia separar do amor de Cristo, e por causa desse amor somos entregues à morte o dia todo (Rm 8:36-39). A paixão do apóstolo por Cristo era tão grande que ele chega a amaldiçoar aqueles que não amam O amam (1 Co 16:22). Na carta de Gálatas (2:19-20) Paulo declara que está morto para si mesmo (crucificado com Cristo), e que Cristo vive nele. Ainda, na carta aos filipenses (1:21-23) faz uma declaração impactante: o viver para ele era Cristo, portanto se morresse ele lucraria, pois estaria com o Senhor. Essa paixão, portanto, incitava o apóstolo a estar sempre no centro da vontade daquele a quem pertencia seu coração.

Dessa mesma forma, o nosso coração deve estar ardendo por amor a Cristo e com certeza só assim veremos em nossa vida cumprida a ordem de levar o evangelho às pessoas da cidade.

Cristo ama a cidade! E como ele ama a cidade nós também temos essa incumbência sobre nós. Se amamos a Cristo, amamos a sua Palavra, suas coisas, seus interesses. Portanto, devemos amar a cidade!

2.4. Paixão pela igreja

Quando a paixão por Cristo toma nosso coração, somos tomados também pela paixão por sua Noiva, seu Corpo. Cristo amou tanto a igreja que se entregou por ela (Ef 5:2,25). Quando nos entregamos à paixão por Cristo, obviamente nos entregamos à paixão pela igreja. Estamos dispostos a morrer tanto por um quanto pelo outro.

Por diversas vezes vemos a apóstolo Paulo tomando as dores de Cristo pela igreja. Podemos entender essa preocupação como um resultado do amor ardente de Paulo por Cristo. O sentimento motivador de Cristo a se entregar pela igreja era o mesmo que Paulo tinha por ele. A entrega, portanto era bilateral: Cristo se entregou pela igreja, e Paulo se entregou por Ele.

Na sua segunda carta aos coríntios (12:15) ele mostra que estava disposto a gastar-se[11] totalmente para o bem da igreja. Essa paixão o levava a não pensar em si, mas demonstrava uma genuína solicitude sob aqueles que ele cuidava.           

Ele compreendeu que amava a Cristo acima de todas as coisas, e esse amor o levou a amar a igreja de uma forma imensurável. Nossas comunidades precisam viver esse amor ardente. Tanto por Cristo quanto pela igreja. Com esse amor ardente pela igreja desejamos vê-la crescendo e expandindo por todos os cantos da cidade.

Segundo Sidney Rooy [12], um dos motivos que impulsionava Lutero a fazer missão era a conversão de pessoas e o crescimento da igreja: Cristo deseja induzir e encorajara todos os gentios em todo o mundo através da Sua Palavra e Espírito, posto que dessa maneira todos se convertam a Ele.

2.5. Necessidade Urbana

As cidades têm vivido tremendas dificuldades: guerrilhas urbanas, violência sem controle, brutalidade, fome, miséria, drogas, impunidade, corrupção, desamor, tragédias, desigualdade social, pais se levantando contra filhos e filhos contra pais. A lista é imensa e parece não ter fim.

Temos sentido hoje, mais do que nunca, que o mundo precisa de Deus. E Deus decidiu precisar de servos. Somos seus servos para levar a mensagem das boas novas, pois só ela é capaz de transformar as urbes.

Assim como Jesus veio para servir às pessoas (Mt 20:28), seus discípulos também são chamados para servir a Ele através do serviço às pessoas (Mt 25:40). Recebemos para isso a unção do Espírito Santo (Lc 24:49; At 2:1-4), assim como o Mestre recebeu. Somos chamados para pregar boas novas aos mansos; a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes (Is 61:1-3).

Alberto Antoniazzi nos diz que:

A questão é oferecer condições às pessoas de fazer uma experiência de Cristo. Neste sentido, não basta reforçar a instituição ou dar mais publicidade à sua mensagem. Deve-se levar à experiência salvífica, a qual só se realiza no contexto da comunidade cristã, do povo de Deus.
Pois o encontro com o Cristo vivo se dá hoje, como no início, através do encontro com seus discípulos. O encontro se dá na comunidade eclesial, enquanto ela assume sua vocação de tornar visível o Reino de Cristo na história. Jesus, o Cristo glorificado, está presente lá onde os seus discípulos se reúnem em seu nome. Mas esta presença se torna exigência de que os discípulos acolham como Ele acolheu, amem como Ele amou, sirvam como Ele serviu, perdoem como Ele perdoou, curem as enfermidades do corpo e do espírito como Ele curou, encontrem sua felicidade nas bem-aventuranças, anunciem aos pobres e oprimidos o tempo da libertação e da graça, tempo de graça que o próximo Jubileu do ano 2000 nos convida a tornar mais claramente manifesto [13].
Isso deve nos motivar a levar às pessoas a salvação, a misericórdia, a justiça, a graça, o amor de Deus.

Concluindo, quais são os motivos para levarmos o Evangelho do Reino às cidades? A glorificação de Deus, a obediência ao seu mandato, a paixão por Ele e por sua igreja e a necessidade das pessoas da cidade.


CAPÍTULO 3
A COMUNIDADE COMPROMETIDA COM A MISSÃO URBANA – QUEM?

Numa aula de Escola Bíblica, um senhor de certa posição de liderança dentro de sua comunidade, me perguntou porque o povo da cidade não ia à igreja. Sabemos que muitas questões poderiam ser levantadas diante desse fato, dada a realidade de cada comunidade. Contudo, creio que a principal razão da cidade se afastar da igreja é que não atendemos as suas reais necessidades, e nossa ação se restringe à mensagens muitas vezes irrelevantes,  alienantes e enfadonhas.

Segundo C. Timóteo Carriker, a resposta de Deus para a cidade se encontra primordialmente na igreja.[14] Por isso, a igreja necessita de uma pastoral voltada para as necessidades das pessoas da cidade, e isso pode fazer muita diferença. Uma “pastoral urbana para a realidade” deve desenvolver um ministério para as pessoas. No episódio da transfiguração (Lc 9: 28-36), onde os discípulos queriam ficar na montanha, o Mestre relembrou que é junto do povo que teriam que estar. A igreja deve estar pronta para orar no monte e depois descer para junto do povo.  Estar junto da cidade nos faz ver a realidade que as pessoas estão inseridas e descobrir quais são suas reais necessidades.

Mas porque a igreja não age na cidade? Ela sabe que deve seguir as ordens de Jesus, deve levar o Evangelho do Reino a todas as esferas da cidade, sabe que necessita ser relevante no contexto da cidade, então porque não faz?

Vamos tomar por base o texto “Viver na Cidade” [15] de José Comblim, teólogo católico e adaptá-lo à realidade protestante histórica. Ele diz que essa falta de ação é simplesmente o resultado da ação do clero em geral e das paróquias em particular.

Em primeiro lugar, o povo não age na cidade porque os pastores estão interessados em mobilizar todo a ação dos crentes para a conservação e expansão da própria igreja. Porque? Porque ele teme que quando as pessoas de sua igreja começarem a se preocupar com as tarefas na cidade, não farão as tarefas da igreja. Teme que o crente se contamine com as coisas profanas da cidade. Teme perder o controle sobre os crentes, porque a partir da ação na cidade, ele começa a ter contato com outras formas de pensar e agir.

Depois, a própria igreja

invoca as razões éticas para limitar rigorosamente todo o agir. Qualquer ação concreta se expõe de tal maneira a tantas críticas morais, que é melhor e mais seguro ficar sem fazer nada. Qualquer agir concreto nas circunstâncias históricas reais está sujeito a tantas restrições, que o mais seguro é não meter-se nos assuntos da cidade.[16]

É nesse contexto de falsa moralidade que a igreja se perde. Ela tenta se tornar tão “santa” e se afastar tanto do que ela considera “profano”, que acaba por se tornar cada vez mais hipócrita. Se o Senhor Jesus garantiu que quando fazemos o bem a alguém, seja uma visita a um enfermo, a um preso, seja quando cobrimos alguém que está nu ou seja quando damos um copo de água a alguém que tem sede, estamos fazendo ao próprio Senhor (Mt 25:35-40), porque nos isolarmos das pessoas? Parece mais uma estratégia maligna.

Num terceiro momento, a igreja não age na cidade por dois fatores ligados à política. O primeiro é que os pastores criticam de tal maneira tudo que se relaciona ao assunto, que os crentes acham que tudo isso é do diabo. Não há como falar de política dentro da igreja sem ser exorcizado. O perigo disso é que os crentes vivem cada dia mais alienados, longe de suas realidades, vivendo duas vidas: uma dentro do contexto eclesial (“aqui não se fala dessas coisas”) e outra no contexto social (porque não existe como viver isolado nesse mundo).

O segundo, e isso é bem típico e vergonhoso em nosso meio. Muitos pastores, em época de eleições, fazem “pedidos” aos candidatos, prometendo votos. É telha daqui, tijolo dali, e uma mão lava a outra. O famoso “jeitinho brasileiro” entrando na vida da igreja. Os crentes não estão alheios a esta situação, e por isso mesmo os que tem coragem, ou enfrentam a situação, ou acabam abandonando a igreja local e até mesmo a sua fé.

Num quarto momento, a pregação dos pastores é um exercício de chantagem moralista. A mensagem intimida os crentes, que até querem realizar alguma coisa na Associação de Bairro local, mas sentem-se inseguros, com medo de se tornarem citação no próximo sermão pastoral.

Por último, os crentes só vão participar de alguma coisa em prol da cidade se o serviço for valorizado pela própria igreja. Portanto, a igreja e os pastores têm a função de serem gestores no sentido de incitar os crentes a se envolverem com a ação na cidade.

O papel da igreja é muito maior do que só pregar. Como portadora da melhor notícia que já se ouviu, ela deve também testemunhar viva e eficazmente a Cristo através de seu envolvimento com a ação na cidade. Sem esse envolvimento, seremos simplesmente como “bronze que soa” ou como “címbalo que retine” (1 Co 13:1).


CAPÍTULO 4
PRÁXIS DA MISSÃO PASTORAL DA IGREJA NO CONTEXTO URBANO – COMO?
Já vimos onde devemos agir, o que nos incentiva nessa ação, e agora sabemos que o agente da missão urbana é a igreja. A resposta de Deus para a cidade é a igreja[17] . Porém, antes de falamos em ação, carecemos detectar os problemas que envolvem quaisquer iniciativas na cidade.
4.1. Desafios

Os desafios que a igreja enfrentará como instrumento divino colocado à disposição para a implantação do Reino de Deus na cidade, são imensos. È preciso ter um olhar de misericórdia com a cidade, alvo do amor de Deus.

Em primeiro lugar, precisamos saber que 30 a 50% da população de muitas cidades encontra-se na linha de pobreza. Por isso, a estratégia urbana deve abranger um Evangelho que leve o Pão da Vida e o pão que dá vida.

O segundo desafio surge desse primeiro. Dado a grande pobreza que boa parte dos habitantes da cidade estão vivendo, existe um abismo com tremendas desigualdades socias. Esse é um desafio para vivermos na cidade em paz, justiça e solidariedade, sem nenhum tipo de exclusão social, econômica, religiosa, racial, cultural etc..

O terceiro desafio nasce do caráter multi-religioso e secular. Existe nas cidades hoje um sincretismo religioso muito forte. As pessoas não se importam mais com a “religião da família”, mas com aquilo que pode trazer vantagens ou alívios pessoais. Na vida urbana, o importante é o bem estar, mesmo que pra isso seja necessário abandonar alguns princípios herdados ou aprendidos.

Outro desafio nasce do que Roger S. Greenway chama de atitudes anti-urbanas. Para ele,

Muito do trabalho missionário foi desenvolvido inicialmente em áreas rurais.  Isso fazia sentido no passado, enquanto muitas pessoas viviam nessas comunidades. Agora, o desafio se encontra nas grandes cidades e nelas há um número reduzido de missionários. Muitos deles acabam por ficar tão perturbados pelo barulho, tráfico, poluição, problemas sociais, criminalidade e lugares lotados, que preferem trabalhar em áreas rurais ou pequenas cidades do interior. Certamente, estas áreas rurais e cidades menores também precisam ouvir o Evangelho. No entanto, mais atenção precisaria ser dada às massas de pessoas não salvas e não alcançadas por igrejas nos grandes centros urbanos[18].

Diante dos desafios precisamos tomar posições certas para realizar uma “pastoral urbana para a realidade”.

4.2. Estratégias

A primeira posição é de uma verdadeira vida cristã. As cidades sofrerão o impacto do amor e da presença de Deus quando a igreja tomar consciência de que pode transformar a sociedade e o mundo, deixando-se ser curada de suas pressuposições e preconceitos e restaurada em sua missão por Deus. Um ministério urbano deve ser encharcado de oração e vida com Deus. A batalha se trava principalmente nas regiões celestes, onde o inimigo de nossas almas não deseja ver a cidade salva e restaurada por Deus.

Depois, precisamos analisar: porque será que a pregação atual não tem sido tão eficaz quanto nos dias da igreja primitiva? Sei que existem várias respostas para essa pergunta, mas quero me deter na pregação, pois, como invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? (Rm 10:14).

Sem o poder do Espírito Santo é impossível sermos eficazes na pregação do Evangelho. Sem o Espírito, o que falamos se torna ensaio moral, discurso político, desabafo de frustrações emocionais, parlatório. O Espírito é aquele que nutre, que dá vida à mensagem. Através do Espírito é que ela pode e consegue transformar corações de pedra em corações de carne (Ez 36:26). Então é necessária uma pregação do Evangelho no poder do Espírito Santo.

Depois, uma pastoral comunitária acompanhada de uma teologia transformadora da cultura. Jesus agia com os discípulos da seguinte forma: “vem e vê!”. Ele estava diariamente com o povo e seus discípulos estavam juntos. Por diversas vezes, o Senhor os deixa em uma situação difícil para que eles pudessem achar soluções para elas (Mt 14:16; Lc 9:13; Mt 17;16). Junto com o povo, com o conhecimento que transforma corações, podemos levar à cidade restauração.

A quarta posição é de uma pedagogia dessa teologia. Não adianta saber somente os conteúdos dela, é necessário inculcá-las. Para isso são necessários princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático, que responda às necessidades das pessoas da cidade.

Em quinto lugar, para uma pastoral relevante para o contexto urbano é o que Robert Lithcum chama da terceira ato-identidade comum da igreja com relação à cidade, ou seja, a igreja com a cidade. De acordo com C. Timóteo Carriker, aqui a igreja se encarna dentro da comunidade e se torna parceira com a comunidade para se dirigirem juntas às necessidades. Significa que a igreja permite que a própria comunidade instrua a igreja na identificação de suas necessidades e na resolução das mesmas. [19]

Concluindo, é necessário saber que os desafios para a implantação do Reino de Deus na cidade são grandes, mas que através do poder do Espírito Santo, aquele que autentica toda boa obra, é possível esse sonho. Depois, as estratégias são necessárias para que isso aconteça. As estratégias, contudo, são fruto de uma encarnação com a cidade.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O grande campo missionário desse século são as cidades. Eles necessitam cada dia de mais missionários e igrejas que estejam dispostas a gastar suas vidas em prol do resgate da cidade. O campo já está pronto para a ceifa, esperando os ceifeiros.

A igreja deve servir a Deus na cidade com todas as suas forças e estruturas, pois só assim o Reino divino será implantado e o Senhor será glorificado.

O que é preciso nos dias de hoje para que a igreja realmente se envolva com a missão na cidade? Falta, em um primeiro momento, uma real paixão por Cristo e por sua obra. Ao mesmo tempo em que vemos um mundo carente de amor, a igreja padece na transmissão desse, porque não tem uma experiência real e profunda com seu Noivo. O amor pela obra parece, muitas vezes, superar o amor pelo Cristo ressurreto. Troca-se a fonte do amor pela conseqüência desse.

E paixão pela igreja de Cristo? Paulo por muitas vezes tomou as dores de Cristo pela igreja. Essa era uma preocupação do apóstolo resultado do grande amor por Cristo. Paulo deu sua vida em prol da igreja porque se viu na obrigação de seguir os passos de Jesus. Paulo era um verdadeiro interessado por tudo o que acontecia dentro da igreja, onde quer que fosse. O que acontece atualmente é que nos fechamos em “guetos” eclesiais, e o resto não é da minha conta.

E o que a paixão pela igreja de Cristo tem a ver com isso tudo? Tem tudo a ver. Quando somos verdadeiros apaixonados pela igreja, tomamos suas dores e fazemos de tudo para tentar apresentá-la a Cristo da melhor maneira possível.  Nós nos tornamos instrumentos na mão do Mestre para operar na igreja a plástica necessária para que ela seja sem mácula, ruga, ou coisa semelhante.

Portanto, uma pastoral relevante para o contexto urbano levará em conta uma vida cristã autêntica e um testemunho poderoso em todas as esferas da cidade. Levará também em conta a pregação das boas novas no poder do Espírito de Jesus, porque sem ele nada podemos fazer (Jo 15:5).

Em ação com o Espírito Santo, uma pastoral voltada para as necessidades das pessoas da cidade, juntamente com princípios e métodos de educação e instrução com objetivos bem definidos. Por fim, é necessário realmente encarnar o ministério pastoral-eclesial na cidade. A igreja precisa deixar de ver a cidade como antro e lugar profano e olhar com misericórdia. Na realidade a cidade depende da igreja como agente transformadora da cidade, pois ela é a resposta de Deus para a cidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almanaque Abril 2002. São Paulo: Abril, 2002.
ANTONIAZZI, Alberto. Desafios para a Igreja no limiar do Novo Milênio. www.cnbb.org.br
BARRO, Jorge Henrique. De cidade em cidade.  Londrina: Descoberta, 2002.